As armadilhas na atualização de sistemas legados — Parte 2

Sua empresa está pensando em refazer seu antigo sistema?
Conheça as 4 armadilhas mais comuns para que possa evitá-las e construir uma estratégia de renovação de sucesso.


A inovação tecnológica corre a passos largos. A cada dia surgem novos entrantes transformando segmentos inteiros de mercado. O que me motivou a escrever essa sequência de artigos foi justamente a vivência consultiva (leia a Parte 1 clicando em As armadilhas na atualização de sistemas legados — Parte 1). Como consultores, temos o privilégio de estar dentro das organizações e conhecer com profundidade suas forças e fraquezas. Entendo que o nosso papel é auxiliar os clientes nesta transformação, mesmo que isso signifique apontar problemas, causar alguns desconfortos, mas fazer a diferença para construir algo novo e melhor. Compartilho a seguir outras duas armadilhas que considero relevantes serem alvo de reflexão.

Armadilha 3 — Copiar “benchmarks”

Outra situação recorrente que costumo acompanhar com alguma frequência: “vamos renovar seguindo os passos de outros players que fizeram esse movimento antes de nós”. A intenção é boa, sempre temos o que aprender com os chamados “benchmarks”, ou referências em português. Já trilharam um caminho que pode ser abreviado ou até mesmo evitado (sim, existe também benchmark do que não fazer). Uma estratégia de renovação de sistemas legados de sucesso precisa ser multidisciplinar. Ou seja, ter um olhar de 360 graus para o negócio, tendo a renovação da tecnologia com uma das bases, mas sem esquecer de outros aspectos fundamentais como experiência do cliente, tendências de mercado, objetivos comerciais, entre outros. Faz parte dessa multidisciplinaridade analisar mercado, concorrentes e referências. O ponto que quero destacar é da diversidade entre organizações. Os cenários de micro e macro ambientes são complexos e únicos. O que pode funcionar bem para uma empresa, pode ser desastroso em outra. Se tivesse uma receita simples, só teríamos empresas de sucesso no mercado. Bastava seguir a mesma cartilha. Também costumo me perguntar: como é que podemos saber se aquela empresa que estamos adotando como referência não está, no mesmo momento, refletindo sobre o seu próprio modelo? Nesse caso, estaríamos correndo o risco de apostar em uma estratégia fracassada sem saber. A mensagem é: vamos usar sim benchmarks, mas com parcimônia. É mais um elemento a ser colocado em nosso mix. Mas não é o único.

Armadilha 4 — Prender-se às metodologias

Essa é uma situação menos comum, mas que já presenciei algumas vezes. Após a tomada de decisão da mudança vem também uma tomada de consciência. A empresa percebe o quanto está defasada tecnologicamente e o quanto ainda precisa ser feito. Nesse momento nasce uma grande angústia e ansiedade para a renovação. Se antes estava acomodada e tranquila em sua posição, a empresa agora está totalmente inquieta atrás de tudo o que há de novidade. É como se de repente passasse a achar que nada sabe e passa a estudar para adotar todas as metodologias mais atuais do mercado. Sou totalmente a favor da adoção de metodologias. Elas ajudam a sistematizar processos de forma eficaz. Normalmente são criadas por pessoas que entendem bastante de determinado assunto e resolveram criar modelos a serem seguidos para facilitar certas ações. Mas importante lembrar que a grande maioria delas foi projetada para um ambiente totalmente diferente do nosso (predominantemente o mercado norte-americano), no qual as estrutura das organizações, o mindset, os prazos e os budgets costumam ser muito diferentes da nossa realidade nacional. Além disso, também são produtos a serem vendidos, alguns inclusive com bastante hype envolvida, modismos passageiros. Existe toda uma indústria que sobrevive através da implantação de metodologias. Trata-se de um mercado legítimo, mas é importante levarmos isso em conta quando formos colocá-las em prática. A armadilha nesse caso é ficar prisioneiro da metodologia. Usa-se para tudo e ao pé da letra, sem flexibilidades e adaptações. A preocupação com ela é tamanha, que perde-se às vezes mais tempo em sua gestão do que na finalidade que a justificou. Metodologias são facilitadores. Se ela está engessando o processo tornando-o mais burocrático e lento, elas deixaram de ajudar para tornarem-se um gargalo. Pense nisso.

Muitos percebem a renovação do legado como uma grande dor de cabeça. Já eu tenho a crença de que é uma grande oportunidade. Inicie agora seu processo de mudança criando uma estratégia de escala em um ambiente multidisciplinar, adotando novos paradigmas, analisando as oportunidades, forças e fraquezas de seu mercado e negócio, apoiando-se em referências e metodologias de forma crítica. É um conselho que pode ser dado para qualquer perfil de organização. A ênfase que estou dando para as empresas de ERP é por perceber que estão em uma espécie de encruzilhada que, dependendo da decisão, pode levá-las em direções opostas. Vivemos a chamada era da experiência, na qual a tecnologia é utilizada como uma (poderosa) ferramenta, um meio para um fim calcado na necessidade do usuário. Uma abordagem quase oposta à que era adotada há cerca de 20, 30 anos atrás, quando tecnologia era diferencial competitivo. Hoje, todos os ERPs se parecem, é quase como uma commodity. Queremos permanecer relevantes pela pertinência da nossa entrega. Fidelizar através da inércia do cliente final é uma estratégia que não se sustenta por muito tempo. O pior dos custos é a evasão silenciosa de usuários pela insatisfação com nosso produto. Com o ritmo acelerado das evoluções tecnológicas, é preciso fazer algo proativamente. Está pensando em renovar o seu legado? A hora de começar é agora.

Você se identificou com as armadilhas citadas ou já viu acontecer em outras empresas? Sabe de mais armadilhas e quer nos contar? Compartilhe conosco a sua experiência!

Artigo da diretora da Hypervisual, Letícia Polydoro. Leia este e outros artigos na integra no Blog A Vez da Experiência no portal do Grupo Amanhã.

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