Mundo Jazz

Esse estilo de música pode nos ensinar a ter multidisciplinaridade e paixão pelo que se faz.


Existe uma sigla em inglês que busca sintetizar o cenário corporativo atual: VUCA, que significa Volatility, Uncertainty, Complexity & Ambiguity (em português: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). Apesar de desconfiar que nós, brasileiros, fomos os precursores do conceito — MuVUCA — e então copiados pelos gringos, a sonoridade do termo nunca me agradou muito.

Pois estava eu e meu marido assistindo a uma série no Netflix chamada The Eddy (foto), que trata de um clube de jazz em Paris. Não aquela Paris de cartão postal, mas sim uma Paris mais cosmopolita, mais verdadeira, mais real. Os personagens iniciam as frases falando em francês e terminam em inglês, e no meio escutamos árabe, polonês, croata… Uma verdadeira salada cultural e étnica.

Logo na primeira cena somos transportados para dentro do clube para usufruir da apresentação da banda principal. Recomendo muito assistir. E é aí que inicia a minha reflexão. Meu marido ama jazz e eu tento acompanhá-lo. Confesso que nem sempre tenho a compreensão do que está acontecendo no palco e tenho a convicção de que a banda se diverte muito mais do que a plateia. Um fenômeno que tenho dificuldade de entender é que, com frequência, tenho a clara percepção de que cada um dos integrantes das bandas de jazz está tocando simultaneamente uma música diferente. O resultado, aos meus ouvidos, é algo completamente dissonante, mas para os músicos parece fazer todo o sentido.

Som efêmero (volátil), sem fórmulas prontas (incerto), difícil de acompanhar (complexo) e que desperta emoções conflitantes (ambíguo): o que pode ser mais VUCA do que o jazz? Com isso, decidi substituir no meu vocabulário corporativo a expressão “Mundo Vuca” por “Mundo Jazz”. Muito mais bonito, significativo e descolado.

É fato que o ambiente corporativo sempre gostou de fórmulas, metodologias e manuais. Missão, Visão e Valores, agora são Propósito, Manifesto e Ressignificação. Se olharmos com um pouco mais de atenção, trata-se de mais do mesmo. Não é apropriando-se de novos termos que estamos de fato fazendo algo diferente. Dizer que o mundo mudou pode parecer ser chover no molhado. Mas nem sempre o que parece óbvio é de fato incorporado. O maior exemplo disso é o que está acontecendo agora: há muitos anos fala-se em transformação digital, e quando a pandemia causada pelo novo coronavírus se instalou, a virtualização pareceu uma grande novidade. Um número significativo de organizações foi pego “de surpresa”, sem nenhum preparo para atuar de forma virtualizada. Já aqueles que iniciaram a sua transformação há mais tempo estão enfrentando a pandemia com muito mais serenidade e deverão sair dela fortalecidos.

Se fica uma lição disso tudo, é que devemos ir bem além da superfície e provocar uma mudança verdadeira, estrutural, consistente. O mundo é heterogêneo, dinâmico e multiplataforma; exige novas experiências e posicionamentos. Nossas organizações deveriam refletir essa realidade: equipes multidisciplinares trabalhando de forma colaborativa para alcançar novos resultados.

E quanto ao jazz, o que ele pode nos ensinar? Ruptura de padrões, horizontalização, experimentação, multidisciplinaridade, paixão pelo que se faz. O que aparentemente é caos se integra em prol de um objetivo comum: criar algo belo e significativo para si e para os outros. Jazz Style: uma nova postura que todas as organizações deveriam experimentar.

Artigo da diretora da Hypervisual, Letícia Polydoro. Leia este e outros artigos na integra no Blog A Vez da Experiência no portal do Grupo Amanhã.

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