Seven – Parte 1: Gula

O cinema é uma fonte rica de novos aprendizados.


Cinema é uma grande paixão que compartilho com toda a família. Semanalmente vejo mais filmes do que a maioria e menos do que gostaria. “Seven” é uma produção de suspense muito elogiada do ano de 1995 que há muito estava na minha lista de filmes para assistir, mas que relutei em ver por conta da violência da trama. Me rendi à insistência de meu filho, resolvi assistir e não me arrependi. Apesar das cenas realmente violentas, a história é fascinante e o final surpreendente. Um resumo da sinopse: Brad Pitt e Morgan Freeman (foto) — no seu auge — investigam em uma caótica metrópole americana um serial killer cujo modus operandi é cometer seus crimes segundo os sete pecados capitais, na seguinte ordem: gula, avareza, preguiça, luxúria, soberba, inveja e ira.

Não pretendo dar spoilers do filme e sim ênfase ao tema: os sete pecados capitais. Segundo a Bíblia, a civilização iniciou pecando. Ao comer a maçã, Eva deu origem a todos nós. Portanto, humanidade e pecado andam juntos. Com ou sem intenção, pecamos diariamente. Sem a carga da culpa religiosa, gostaria de me ater às consequências destes pecados em nossa vida corporativa, em especial no varejo. Vou seguir a trilha de nosso serial killer mencionado, e iniciarei falando sobre a Gula.

A Gula (Dicionário de sinônimos: avidez, apetite, esganação, fome, voracidade, ansiedade, olho grande)

É do senso comum entender que, para que um estabelecimento varejista se justifique, ele precisa ter uma demanda mínima constante de consumo. O desafio é manter e, principalmente, ampliar essa demanda nos tempos atuais. Em um mundo em transformação tecnológica e comportamental este desafio é ainda maior. Ampliar o número de pontos de vendas, diversificar mix, contratar publicidade, investir em e-commerce, remodelar lojas, criar novas experiências para o consumidor são apenas alguns exemplos de possíveis estratégias para o varejo. Na ansiedade de crescer e ser relevante nesse novo cenário, muitos estabelecimentos acabam optando por seguir seus instintos e investir naquilo que acreditam ser o melhor para o seu negócio. O problema está em confiar demais em seus instintos e não em análise de fatos.

Um exemplo recente do que podemos enquadrar no pecado da Gula é o case da Forever 21. A famosa rede americana acaba de anunciar pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Das aproximadamente 800 lojas que possuía mundialmente, está encerrando operações em cerca de 350. Um número significativo para quem até pouco tempo era referência de vanguarda em moda jovem. Muitas são as especulações sobre os motivos da derrocada. Mas o que chama a atenção foi o grande investimento em aumento de número de lojas, todas ocupando extensas áreas, em espaços caros de shopping centers. O gerenciamento desta mega estrutura exige grande esforço e investimento. O diretor de estudos de varejo da Columbia University (EUA) Mark A. Cohen acredita que “lojas demais, em tantos shoppings em declínio, foram expandidas além do que a Forever 21 pode gerenciar de forma produtiva”. Paralelamente a esse movimento de expansão física, a adesão dos consumidores às compras on-line vem aumentando significativamente, e a Forever 21 não se preparou para essa mudança comportamental. Pela voracidade com que a rede desejou crescer, aparentemente não realizou uma avaliação adequada de cenários para definição das melhores estratégias. Para a Forever 21, portanto, a Gula foi um pecado mortal.

Vivemos em uma era de transformação rápida em que o velho e o novo, o tradicional e o disruptivo, o reacionário e o progressista estão em conflito acirrado. A revolução digital é um fato, gostemos ou não, nosso mundo nunca mais será como antes. Por conta deste cenário, devemos ressignificar nossos negócios sob pena de ficarmos associados aos tempos bíblicos, lembrando dos bons tempos com saudade, tendo sido exterminados por um dilúvio repentino. A boa notícia é que estamos justamente naquela etapa da revolução chamada “durante”, com a oportunidade de construir o nosso futuro para quando chegar o “depois”. Nosso resultado dependerá dos movimentos estratégicos que faremos nesta fase. Uma fórmula promissora de construirmos essa ressignificação é avaliarmos o nosso modelo de negócio atual escrutinando justamente as nossas falhas. Por conta disso, estudar os sete pecados capitais pode ser um bom exercício. Começamos pela Gula. Convido você a seguir as pistas do nosso assassino de “Seven” antes que ele cometa o próximo pecado: a Avareza.

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Artigo da diretora da Hypervisual, Letícia Polydoro. Leia este e outros artigos na integra no Blog A Vez da Experiência no portal do Grupo Amanhã.

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